A saída estava logo ali. Tinha os motivos, a razão, e tudo a seu favor para atravessá-la. Faltava a coragem. Coragem? Meu amigo disse que pularia, e pulou. Faltou a coragem. A coragem de enfrentar a vida. Tem muita gente que tenta, e muita gente que apenas se arrasta por ela entregando-a ao destino. Ou é à sorte, ou é à coincidência?
Pois é, ali estava: marrom; escancarada; daquelas lisas sem um pingo de extravagância ou luxúria. Um belo trinco redondo e dourado. E a luz do outro lado... Ah! Era a luz da incerteza. Incerteza? Incerteza minha tia teve naquela época em que o filho estava domado. Domado pela química substância que dá o prazer de destruir sua vida. Era incerteza se o deixava enxergar sozinho, se fingia não saber, ou se lutava. Se apenas lutava por ele. Nesse caso, uma falha traria maior decepção e inconformação do que tudo. Destino? Ou é sorte? Ou é coincidência?
Pois é, significava mudança. O lugar em que estava o deixava solitário. Não tinha muito o que fazer. Era leitura ou conversa. Ler era algo que não tinha costume. Mal sabia soletrar o próprio nome. E a conversa era com uma gente não muito agradável, não exatamente a companhia que esperava ter quando crescesse. Mas do outro lado havia mudança? Para melhor ou pior?
Mudança é quando em cem anos a sociedade redefine sua organização de liderança do estado. Mudança é quando o corte de cabelo o tira da cintura para os ombros. Mudança é também quando se perde o trabalho, depois a casa, e então a esposa para o novo riquinho que ocupa seu ex-cargo, e depois os filhos para a esposa na justiça. É destino? Ou é sorte? Ou é coincidência?
Pois é. Com os sentimentos à tona, era questão de preferência. Se tivesse preferência, se tivesse coragem, se quisesse mudança. Era pôr em questão tudo o que aprendera de valores. E se o tempo nesse lugar escuro em que se encontrava por quase 20 anos acabara com seus valores? E se os valores não fossem os certos como pensava que eram.
A porta estava aberta. Destino, sorte coincidência... Destino, sorte, coincidência...
Encheu o peito de ar, e com o relógio que indicava as 12:00 de um provável dia ensolarado, deu seus três passos e mergulhou no..
Destino? Ou na sorte? Ou na coincidência?
Laura Calheiros Gomes Ribeiro
21 de março de 2007
Talvez uma certeza tenha me envenenado. Ou talvez nada me tenha deixado assim. Enfim. Encanta-me uma leitura enxuta: enxuta como a literatura que os Grandes gozam.Drummond e Graciliano que concordem comigo... Quanto menos canso, maior o meu interesse por um texto, e essa leitura é muito agradável, na sua construção (muito embora eu tenha engolido uma certa dosagem de angústia). mas essa é a intenção de uma boa literatura. =)Um beijo!
ResponderExcluirBruno Wanger